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segunda-feira, agosto 30, 2004

A festa de Barrancos 

Será que alguém já reparou que estão a decorrer as festas de Barrancos?
Lembram-se de, há bem pouco tempo, as televisões fazerem corrida pelo melhor lugar e, por serem as primeiras a chegar àquela vila alentejana? Lembram-se de quão empolada era a situação da morte do touro? Entrevistava-se o taberneiro, o barbeiro, a dona Mariquinhas, o espanhol, o emigrante em França, o GNR defensor da tradição, mas a quem a farda impunha uma obrigação de persecução, o dono dos touros, os bêbados todos que esgotavam o stock de "mines" da terra, enfim, uma catrefada de gente. E, depois, o matador chegava, normalmente, pela calada da noite vindo de Espanha. A GNR lá o havia deixado passar incólume, uma vez mais, porque este chegava disfarçado(!?)... Todos os anos era assim. Depois de consumada a morte do touro, novo disfarce e lá partia ele rumo a terras de Extremadura. E, nesta altura, a vila enchia-se de milhares de pessoas.
Agora que a coisa é legal - matem lá o touro à vontade que o pessoal não liga - as televisões não vão, o número de visitantes reduziu drasticamente, o taberneiro já não vende tanto, a dona Mariquinhas já não tem direito de antena, o GNR já pode aplaudir no calor da festa, o espanhol já não vem tantas vezes, o emigrante em França fica na barbearia a falar de futebol, o dono dos touros passou ao anonimato e o stock de "mines" vai-se acumulando.
É assim porque é legal e, como tal, deixou de interessar. É assim porque a nossa comunicação social não entope as televisões, rádios e jornais com Barrancos. Essas parangonas ficam esquecidas, dando lugar a outras de outro qualquer assunto. As ligas dos direitos dos animais já não reclamam tanto e, porventura, até se esquecem da data.
O mesmo se passa com o "Barco do Aborto". Tirem a comunicação social da situação e vejam-nos regressar à Holanda, ou perseguir o percurso até Malta (o país que pretendiam visitar a seguir). É simples, o que não é mediático cai em esquecimento!
O barranquenho Zé Maria sofre desse mal. A comunicação social explorou-o até ao tutano, deitando-o ao esquecimento quando a sua imagem já não vendia mais. Tal como fizeram com a sua vila. Barrancos não vende mais porque já não sacrifica um Governo, não faz mossa e, desse modo, mesmo sendo uma situação em tudo idêntica à que se vivia antes de ser permitida a morte do touro, deixou de interessar.

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